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Tome banho, não tome choque!

Chuveiro elétrico: por que não levamos choque se água está em contato com a parte eletrificada do resistor de aquecimento?

Olá!
Se derrubamos um aparelho elétrico(ligado), por exemplo, numa banheira, podemos ser percorridos por uma corrente elétrica, pois a água contém alguns sais e estes melhoram a condução da corrente elétrica (que no caso seria uma corrente iônica). Porém, a “resistência elétrica” de um chuveiro também entra em contato com a água e por que não levamos uma descarga elétrica?
Essa questão está relacionada também a o que aconteceria se jogarmos uma grande quantidade de sais na caixa d’água. Levaríamos uma descarga elétrica, pela água, no chuveiro? Se a resposta for que o chuveiro “queimaria”, por qual razão?
Obrigada! Obs: acredito que essas perguntas sejam daquelas clássicas, porém nunca tenho uma resposta convincente. rsrsrsr. Um Abraço!

A pergunta é recorrente.

Parece que num filme, num dia destes alguém enfiou na água um secador de cabelos funcionando e matou quem estava na banheira…

Bom, sabes bem que, pelos princípios da física, a pessoa só sentirá um choque elétrico se for percorrida por corrente elétrica de alguma intensidade (poucos miliampéres são suficientes e podem ser mortais).

Então a resposta que sempre dou é que, se, em qualquer circunstância, houver uma diferença de potencial suficiente para estabelecer alguma corrente elétrica que percorra os tecidos do corpo e esta corrente for suficientemente grande pode haver choque elétrico.

– Por que uma bateria de 12 volts não nos “dá choque” quando tocamos os seus bornes?

– Porque para que haja alguma corrente que implique risco para o nosso corpo é necessário uma diferença de potencial (voltagem ou tensão) muito maior – cerca de 50 volts pelo menos se estivermos com a pele seca e intacta.

– Por que um passarinho não leva choque quando pousa num fio de alta tensão?

– Porque não há diferença de potencial sobre o seu corpo.

Na índia, onde os macacos circulam pelas redes elétricas da cidade, é comum que sejam eletrocutados ou mutilados porque tocam os seus membros, rabo ou focinho no segundo condutor quando estão empoleirados em um deles.

No caso específico dos chuveiros, a diferença de potencial da rede elétrica estabelece uma corrente entre os terminais de seu próprio resistor de aquecimento, e não pela água que, por mais condutora que seja, representa uma resistência, de muito maior valor, em paralelo com a primeira. Logo a corrente que circula pela água é mínima.

Também existe um condutor interno no chuveiro que fica imerso na água (sem nenhum contato aparente) que serve para conduzir ao (neutro), ou a um circuito de aterramento, qualquer fuga de corrente que circule pela água. Quanto mais nos afastarmos do resistor de aquecimento, menor será a corrente que circula pela água.

O que poderia representar algum perigo é se o terminal elétrico da fase que alimenta o chuveiro ficasse permanentemente imerso na água, mesmo quando o chuveiro estivesse desligado. Porém isso não acontece, existe uma válvula de fluxo que desconecta a rede elétrica do resistor quando o chuveiro é desligado.

Os pequenos choques (leve formigamento) que se sentem em algumas situações ao se tomar um banho de chuveiro são devidos às diferenças de potencial entre nossos pés molhados e a manopla de ajuste do fluxo de água. Para evitar estes choques, basta colocar um condutor conectado à manopla e o piso do banheiro. Pode até amarrar a extremidade no tapete do box ou mesmo deixá-la em contato com a superfície molhada do piso. Assim reduzimos o nosso problema ao caso do passarinho na rede elétrica. Estamos sobre um mesmo fio, logo não há diferença de potencial entre nós e a manopla.

Assim também, se houver um bom aterramento do chuveiro nunca vamos sentir choques, nem pela tubulação nem através da água, pois na água que cai em nós não tem corrente circulando e nem mesmo que esteja em contato com as extremidades do resistor de aquecimento, não se consegue estabelecer uma diferença de potencial sobre o nosso corpo que determine uma corrente elétrica sensível. Claro o chuveiro, presume-se que não seja de Alta Tensão!

Agora vamos ao caso de um equipamento elétrico ligado entrar em contato com a água de um banho de imersão.

Neste caso há contato do próprio condutor que alimenta o circuito com a água na qual supostamente estamos imersos. E pode haver proximidade bem acentuada. Seria como se tocássemos um condutor “vivo” estando imersos em água. Se a banheira for de um material isolante, o problema novamente se reduz ao caso do passarinho no fio. Mas podemos levar um choque se, estando imersos na água, tocarmos em alguma manopla externa, ralo metálico ou algum outro dispositivo da banheira que produza o fechamento do circuito elétrico através de algum dos nossos membros. No mais nada aconteceria, a não ser a queima do equipamento por perda da isolação de seus condutores internos.

O grande risco da eletricidade para alguém em contato com a água é haver condições de se estabelecer um circuito fechado entre a fonte de tensão e o solo (aterramento). Assim jamais tente consertar uma bomba d’água (ou qualquer outro equipamento) sem desconectá-la totalmente da rede elétrica. Não toque na carcaça de motores ou dispositivos elétricos não aterrados, principalmente se estiver de pés descalços e molhado ou dentro d’água. Os eletricistas sempre utilizam sapatos com solado de borracha!!! Muito cuidado com máquinas de lavar roupas e geladeiras que podem representar risco de choque a operadores descalços em piso úmido, quando houver alguma falha de isolamento nos seus motores (na praia o ar úmido salinizado é um ótimo destruidor de isolamentos elétricos).

Lembre-se só seremos vítimas de choques elétricos, se houver uma diferença de potencial próxima ou maior do que 50 volts sobre nós e se o nosso corpo for caminho para a corrente elétrica que eventualmente circular.

Prof. Renato Machado de Brito – Escola de Engenharia – UFRGS

Fonte: if.ufrgs.br
Imagem: hercampus.com

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